JORNAL ESTADO DE MINAS

Patrícia Espírito Santo

5 de Dezembro de 1993

FLORES DE MINAS

Uma moda que nasce com arte

O trabalho incansável da estilista têxtil Vanda Guerra em favor da promoção e valorização da cultura brasileira na moda, mostra um resultado positivo e inédito no Brasil. Ela conseguiu reunir nove artistas mineiros de renome e nove tecelagens também
mineiras num projeto que será comprado pelo Canadá.
A mostra pode ser vista a partir do dia 7, no Palácio das Artes

A marca registrada de Vanda Guerra. desde o início de seu trabalho dentro da moda há 20 anos, é a busca de uma integração entre a cultura brasileira e a moda. "A moda é, em qualquer país, um retrato do viver do povo. E quem sabe retratar bem o viver é o artista. Porque não usar o trabalho deste artista na moda"? questiona.

Ela conta que há muito tempo vem discutindo, com os conferencistas estrangeiros que vem ao Brasil patrocinados pelos bureaux de estilo, sobre as possibilidades da nossa moda. "Eles são unanimes em afirmar que o Brasil tem que fazer sua própria moda, mostrar sua própria cultura. Só assim pode competir lá fora". Vanda lembra que no ano passado, um dos cinco temas ditados pelos comitês internacionais de estilo foi Brasil. Essa indicação é parte de um movimento de entrada do Brasil na moda.

Isto talvez explique o interesse que um grupo empresarial canadense vem demonstrando pelo nosso design. Eles estiveram aqui na última Fenatec, maior feira de tecidos do país, a procura de um design genuinamente brasileiro. Ficaram decepcionados. Disseram que não viram nada diferente e decidiram-se então contratar alguém para ajudá-los. Eles querem fazer acordos de importação. Através do Indi, Instituto de Desenvolvimento Industrial, chegaram até Vanda Guerra. Dermonstraram mais interesse no algodão, pois sedas eles têm, das melhores. Querem algo brasileiro.

Nasceu o Projeto Flores de Minas. "Escolhi o tema floral por vários motivos. A estação é primavera/verão e Minas tem tradição floral devido à chita. Convidei os artistas que criaram telas especiais para o projeto com exceção de Chanina, que impedido de trabalhar com tinta à óleo, cedeu uma tela de seu acervo particular".

O artista garante a qualidade artística e Vanda Guerra garante a qualidade de moda, Ela passou nada menos que cinco meses trabalhando nos computadores da Belgo Mineira Sistemas, transformando os quadros em fotolitos para a impressão nos tecidos. Foram convidadas todas as 16 tecelagens mineiras para participarem do projeto, mas apenas nove encararam o empreendimento. "As indústrias têxteis mineiras avançaram muito nos últimos três anos, tecnologicamente falando. Isso porque investiram em novos equipamentos, sendo possível a elas agora concorrer gomo mercado externo. E esse avanço tecnológico é que tornou viável o projeto".

Cada uma das tecelagens comprou de um artista o direito de reprodução da obra em tecidos para moda e/ou decoração. "No computador tentamos aproximar as cores dos tecidos o máximo possível dos tons das telas e ainda desenvolvemos mais duas variantes de cores atendendo às tendências da moda e dando ao consumidor opção de escolha", afirma a coordenadora do projeto.

A indústria têxtil mineira é responsável por 36% da produção nacional de tecidos consumidos pela classe média, que engloba o grosso da população brasileira. "Já imaginou você num supermercado ou magasine escolhendo entre um edredon assinado por Virgínia de Paula ou Chanina?" As telas foram desenvolvidas em tecidos como popeline, brim, crepe, percal e meia-malha.

O projeto Flores de Minas mereceu também uma atenção da Secretaria de Estado da Fazenda que prorrogou o pagamento do ICM em 30 dias para as vendas dos tecidos participantes do projeto. Esta não é a primeira experiência de Vanda com artistas plásticos. Quando foi responsável pelo estilo da tecelagem Cachoeira de Macacos, Vanda estampou obras dos artista Ivã Volpi. Luizinho de Paula e Jorge dos Anjos nos tecidos de algodão. Cada um chegou a vender em média 100 mil metros, sendo considerada uma venda bem sucedida.

Os nove artistas participantes do projeto foram selecionados pela também artista plástica Marina Nazareth. Os tecidos estarão de 7 a 20 de dezembro no foyer do Palácio das Artes numa exposição montada pela arquiteta Jô Vasconcellos que trabalhou as tramas dos tecidos, as tramas do computador em tramas de arame. Foi fundamental também a colaboração do prof. Bartolomeu de Queiroz, responsável pela aproximação das indústrias mineiras com o Palácio das Artes. Ano que vem, a exposição vai para São Paulo com possibilidades também de ir para o Canadá. Os canadenses terão novo contato com Vanda Guerra na próxima Fenatec, que acontece em fevereiro em São Paulo, quando vão analisar o que foi desenvolvido até agora. "Este é um esboço do trabalho que pode abrir muitas possibilidades para o Brasil lá fora", se orgulha Vanda.