JORNAL ESTADO DE MINAS
Roberto Drummond
19 de Novembro de 1982
TOMEM NOTA: CHEGOU A VEZ DE ALTINO, HELENA CAMPOS E PEDRO AUGUSTO
O mestre mais importante foi Amílcar de Castro. Com ele, Pedro Augusto, Altino e Helena Campos aprenderam que o essencial para o artista artista é a coragem de se soltar, a liberdade de expressar procurando todas as informações, todas as emoções dentro de si mesmo. O trabalho espontâneo sem a preocupação técnica que vai se formando a partir do próprio fazer.
Eles se desvincularam do grupo de Amílcar, cada um seguiu seu caminho, unidos dentro de uma mesma filosofia. Agora, estão novamente juntos numa exposição que começa amanhã, dia 18 de novembro, às 20h30m, no Instituto de Arquitetos do Brasil (rua Mestre Lucas, 70).
Para Pedro Augusto, a pintura ocupa um lugar especial na sua vida e ele a define como aquilo que mais gosta de fazer. A natureza faz parte de todos os seus trabalhos, através de uma observação constante de vegetação que, depois, vai tomando forma dentro do seu atelier. Ele explica: "Embora quase abstrato, parto sempre do princípio de que estou pintando uma paisagem. Nesta exposição, ele mostra cerca de dez trabalhos em quadros pintados com pigmentos naturais sendo a primeira vez que utiliza essa técnica. Pedro Augusto cursou a Escola Guignard e diz que tem se sentido muito bem nesta técnica que experimenta, uma vez que ele consegue uma aproximação maior com a natureza que ele cultua, preparando as tintas, buscando cores bem naturais. Fotógrafo exclusivo de dança, ele confessa que essa atividade soma-se ao seu trabalho na pintura, através dos espaços que a dança manifesta.
Arquiteto, Altino desenvolvia, no princípio, um desenho de linhas puras que, a partir do trabalhos em arquitetura, foi tomando formas geométricas. Com o uso da cor, esta forma vai começando a se diversificar, vai ai diluindo, numa tentativa de resolução que seria o quadro especificamente. Quando pinta a natureza, Altino gosta de trabalhar "in locu" e vão fazer parte desta mostra alguns quadros que pintou em Alcobaça, transportando a tela para a praia, para bares, pintando ambientes. No atelier, ele parte da imaginação e tem uma forma especial de explicar: o nada (seria a energia potencial), a emoção visual (o estímulo), o despertar do estímulo (a conscientização), a ação de fazer (representação de movimento) a relação com o sentir (raciocínio e intuição), a emoção desabrochando (pinceladas), o jogo de participação — a mesma.energia que fez despertar o estímulo que sofreu e gozou para agir transformou-se, virou no momento da mostra a mesma energia que leva as pessoas a reagirem, o resultado (a entrega, a exposição).
O resultado, porém, é único, sempre com a conotação de liberação da emoção, de liberdade, a sensação que se cresceu, que se ganhou com o trabalho. Altino mostra, também, cerca de dez trabalhos entre pinturas e desenhos.
Helena Campos desenvolveu os quadros que mostra nessa exposição em Alcobaça, a maioria em acrílico, apesar de estar fazendo têmpera atualmente. O tema são casas e ela toma as fachadas como ponto de partida, como um estímulo onde o consciente está participando para o inconsciente vir à tona. Tudo num jogo de cor que define espaços e contrastes que transmitem a emoção, que predomina sobre o planejamento visual, a organização. Ela explica: " Partindo do consciente/ o despertar do inconsciente/ Portas fechadas/ Fachadas de cores puras/ desabrochar de mundos interiores/ um convite à ima ginação".
No ano passado, ela realizou com Altino (com quem é casada) uma outra exposição e, de lá para cá, vê um crescimento na sua atividade no que diz respeito à limpeza, cuidado cora o trabalho, mais leveza, como resultado da própria experiência e não da preocupação exclusiva com isto. Helena termina o curso na Guignard e faz um curso de especialização em serigrafia. Para ela, Amílcar de Castro, Carlos Wolney e Herculano são pessoas importantes no seu aprendizado, em termos de dar força para o inconsciente, o gestual.
Os três consideram importante realizar esta exposição na galeria de IAB, uma galeria que aponta novos espaços para propostas novas, prestigiando artistas que estão começando, sem preocupação com o mercado de arte ou fins lucrativos.
Três artistas que aprenderam que o essencial é descobrir o artista que existe dentro deles, que a grande jogada é o conteúdo, é a expressão individual, seja ela qual for, sem certo ou errado, feio ou bonito, dentro do caminho que escolheram para se manifestar: as artes plásticas.